LESÕES DEGENERATIVAS - Dr Otavio Pecora
O ser humano, durante seu envelhecimento, passa por diversos processos de alteração de seus órgãos. Durante este processo, que é lento e gradual, ocorrem mudança tanto no número de células quanto na qualidade dos tecidos corpóreos. Estas alterações podem levar a perda de função, aumentar risco de lesões, proporcionando dor, inflamações e limitação de atividades antes toleradas. Este artigo irá abordar o processo degenerativo que ocorre nas articulações, suas características e princípios de tratamento.
O processo de degeneração articular
A articulação corresponde ao conjunto de estruturas que fazem a ligação entre os ossos. É formada por diversos tecidos (osso, cartilagem, ligamentos, cápsula articular, tendões, entre outros) e tem como principal função promover movimentos. A degeneração da articulação é um processo que ocorre quando as estruturas envolvidas não são mais capazes de promover movimentos adequados e indolores. O principal tecido envolvido no processo de degeneração das articulações é a cartilagem. Este tecido esta localizado no ponto de contato entre um osso e outro e proporciona movimentos com menor atrito, menor carga e, portanto, sem dor. A cartilagem não tem propriedade de regeneração, sendo que quando lesada, ocorre uma cicatrização com um tecido que não tem as mesmas propriedades. O resultado é um desarranjo mecânico que resulta em um circulo vicioso de acúmulo de carga e mais lesão da cartilagem.
Quais são os sintomas?
O sintoma mais precoce e característico é a dor na articulação. A dor varia muito com o estágio e controle da doença. Inicialmente a dor ocorre a grandes esforços ou no fim do dia mas, com a evolução e descontrole da doença, pode se manifestar até no repouso. Como comentado anteriormente, a perda de cartilagem aumenta o atrito entre os ossos durante o movimento. Este atrito vai gerar os sintomas clássicos de inflamação: aumento de temperatura, vermelhidão e edema (inchaço). Em estágios mais avançados, ocorre rigidez da articulação, cursando com perda de amplitude de movimento. Outros sintomas associado a casos mais graves é a perda de estabilidade articular.
Tem cura?
A perda do tecido de cartilagem é um processo irreversível. Inúmeras alternativas estão sendo estudadas para repor este tecido (transplante de células, estudos com células tronco, entre outros), mas ainda não representam uma solução definitiva. Apesar disso, o processo pode ser estabilizado e os sintomas controlados, o que proporciona uma boa qualidade de vida ao paciente.
O que fazer para melhorar?
O tratamento é dividido em controle dos sintomas e diminuição da sobrecarga da articulação. No controle dos sintomas, são utilizados: Analgésicos e anti-inflamatórios Compressas de gelo Infiltrações intra-articulares Condroproterores (medicações que melhoram a função do tecido da cartilagem) Viscosuplementação (reposição de acido hialurônico intra-articular) Estas medidas melhoram os sintomas do paciente mas não evitam a evolução do processo degenerativo. Já a diminuição da sobrecarga articular pode retardar ou interromper esta progressão. As principais medidas para diminuir a carga transmitida para a articulação são: Adequação de estilo de vida (evitar atividades com muito impacto) Controle do peso Fortalecimento da musculatura do membro inferior (com exercícios localizados e funcionais) Alongamento da região posterior da coxa (isquiotibiais) Uso de apoios ou órteses em casos que apresentem instabilidade As atividades físicas empregadas para o controle dos sintomas devem ter baixo impacto. Exercícios feitos em bicicleta ou em água (como natação e hidroginástica) tem pouca transmissão de carga para a articulação, trazendo muitos benefícios sem proporcionar os malefícios do impacto. Já caminhadas intensas, trotes ou atividades que envolvam saltos, não são aconselháveis. É importante destacar que estas medidas tem efeito a médio e longo prazo, e que a sua interrupção pode reverter o controle dos sintomas. Portanto, a mudança do estilo de vida é fundamental para o sucesso do tratamento clinico.
Quando operar?
Como comentado, o processo de degeneração é evolutivo. Quando os sintomas do paciente evoluem com importante limitação das atividades diárias, mesmo após adequado tratamento clinico, a opção por tratamento cirúrgico pode estar indicada. Existem duas abordagens. A primeira é uma cirurgia mais simples, a artroscopia. Tem o objetivo de melhorar temporariamente os sintomas ao retirar lesões muito degeneradas e detritos articulares. É uma abordagem que não melhora a evolução da degeneração. É mais indicada em pacientes ainda sem idade mínima para realizar a cirurgia definitiva. A segunda abordagem seria a artroplastia. Neste caso a articulação degenerada é retirada e substituída por uma prótese, na maioria das vezes metálica. Esta cirurgia melhora muito a dor e um pouco a mobilidade articular, mas não proporciona uma nova articulação, sendo que cuidados especiais devem ser tomados. Normalmente é indicada em pacientes a partir dos 60 anos, pois a prótese tem uma vida útil e a colocação precoce pode gerar desgaste e necessidade de troca da prótese em um menor período.